Taxa de investimento empresarial: uma análise da sua evolução recente

A taxa de investimento empresarial tem registado uma trajetória descendente desde 2022. Medida pelo rácio entre o investimento das sociedades financeiras e não financeiras e o PIB, esta diminuiu de 14,1% para 13,1% em 2024. O nível alcançado em 2022 encontrava-se próximo daquele observado em 2008, no seguimento de uma trajetória de recuperação que se iniciou em 2013 (Gráfico 7). Em termos nominais, estima-se que, em 2024, o investimento empresarial tenha registado um crescimento de 2,3%, o que compara com um crescimento nominal do produto de 6,4%.
Esta redução coincidiu com um período de maior restritividade da política monetária. A decisão de avançar, ou não, com um projeto de investimento depende da rentabilidade do mesmo e do custo de oportunidade para o investidor. Por sua vez, a rentabilidade é impactada pelos custos de financiamento, os quais determinam o valor presente dos fluxos futuros. A sensibilidade a esses fatores tende a ser mais evidente para empresas mais jovens (que enfrentam com maior probabilidade constrangimentos ao financiamento) e as empresas que operam na produção de bens duradouros.
O aumento das taxas de juro impactou a procura de crédito. Esta observação é validada pelos resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito. Após a recuperação pós-pandemia, a procura de crédito para financiamento do investimento registou uma quebra expressiva entre o final do ano de 2022 e de 2023, atingindo níveis anteriormente observados apenas na sequência da crise financeira internacional de 2008 e durante a crise das dívidas soberanas. Esta coincidiu também com um contributo negativo do nível das taxas de juro para a procura por crédito. Ainda assim, o ano de 2024 foi marcado por uma melhoria progressiva, e expressiva, desta procura, com esta a alcançar no final do ano um nível considerado neutro pela primeira vez em dois anos (Gráfico 7).
Gráfico 7 – Taxa de investimento empresarial e determinantes da procura de crédito pelas empresas
Taxa de investimento (% PIB)
Fatores com impacto na procura de crédito das empresas (índice de difusão)
Fontes: INE, BdP e cálculos CFP. A taxa de investimento encontra-se expressa em médias móveis de quatro trimestres; O índice de difusão varia entre -100 e 100. Valores inferiores (superiores) a zero traduzem critérios menos (mais) restritivos. O valor zero corresponde a praticamente sem alteração.
Os inquéritos qualitativos de conjuntura do INE apontam para uma evolução do investimento empresarial em 2025 semelhante à observada em 2024. As questões qualitativas semestrais sobre o investimento, cujos resultados foram publicados em outubro de 2024, tanto para a indústria transformadora, como para os serviços, permitem aferir a avaliação das empresas quanto ao investimento realizado e, também, previsto. Em ambos os casos, o saldo de respostas extremas[1] para o investimento previsto para 2025 é positivo, ainda que ligeiramente inferior à avaliação do investimento realizado em 2024.
As perspetivas para Portugal são, ainda assim, mais favoráveis do que para outros Estados Membros da UE. Olhando para os resultados do inquérito ao investimento compilados pela Comissão Europeia (CE), e particularmente para a indústria transformadora, verifica-se uma degradação acentuada das perspetivas para o investimento entre 2023 e 2024, com a avaliação dos empresários a situar-se em patamares negativos para o conjunto da UE, e particularmente para a Alemanha (Gráfico 8). Tal reflete uma maior proporção de empresas a antecipar uma contração do que uma expansão do seu investimento, por exemplo, na substituição de instalações ou equipamentos, extensão da sua capacidade de produção ou a sua otimização. As perspetivas para 2025 em Portugal e Espanha são significativamente melhores do que as avaliações reportadas entre 2015 e 2019, o que não é o caso em países como a França e a Alemanha, ou mesmo para a média da UE, um elemento que acompanha projeções de crescimento económico igualmente mais favoráveis.
Gráfico 8 – Planos de investimento na indústria transformadora e stock de capital das sociedades não financeiras por trabalhador
Planos de investimento na indústria transformadora (s.r.e.)
Stock de capital das sociedades não financeiras por trabalhador em 2022 (milhares de euros por trabalhador)
Fontes: Comissão Europeia, Eurostat e cálculos CFP.
O aumento do investimento empresarial, e assim do stock de capital disponível por trabalhador, é fundamental ao aumento futuro da produtividade em Portugal. O capital disponível por trabalhador, a chamada intensidade do capital, em Portugal, apresentou o terceiro valor mais baixo da área do euro[2] em 2022, e correspondeu a cerca de 50% da média (Gráfico 8).[3] A intensidade do capital é uma métrica fundamental na determinação da produtividade por trabalhador, determinando o acesso a máquinas e equipamentos mais atualizados, infraestruturas mais eficientes e tecnologias avançadas.
[1] Diferença entre a percentagem de respostas indicativas de um aumento do investimento subtraída da percentagem de respostas indicativas de uma contração.
[2] Calculado excluindo o stock residencial. Exclui-se também a Irlanda pela distorção introduzida pelos ativos intangíveis de multinacionais com sede no país. Consultar Honohan (2021).
[3] Métricas alternativas apresentam um comportamento semelhante. Por exemplo, de acordo com estimativas a paridades de poder de compra de 2010, Portugal apresenta um nível correspondente a 65,0% da média da área do euro. Ver Bergeaud et al. (2016).
*Artigo publicado originalmente no relatório 02-2025 do CFP, "Perspetivas Económicas e Orçamentais 2025-2029".
Data da última atualização: 24/04/2025