De forma complementar a uma análise tradicional de decomposição do crescimento do PIB nos contributos da procura interna e da procura externa líquida, importa analisar o contributo de cada componente líquida da sua parcela de importações.
Numa análise clássica dos contributos para o crescimento do PIB, a componente de importações de bens e serviços é usualmente deduzida, na sua totalidade, às exportações de bens e serviços para o cálculo da procura externa líquida. Esta decomposição tem a desvantagem de descontar ao contributo das exportações a totalidade das importações, reduzindo assim o contributo da procura externa e sobrevalorizando o contributo da procura interna. Com efeito, as importações não ocorrem exclusivamente para consumo intermédio na produção das exportações, mas também, em graus diferenciados, na disponibilização dos bens e serviços necessários para satisfazer as outras componentes da procura global: consumo privado, consumo público, investimento. Assim, importa realizar uma análise alternativa em que o contributo de cada componente é calculado com base no seu valor deduzido da sua parcela importada. Desta forma é possível obter uma imagem mais fiel dos verdadeiros determinantes do crescimento da economia, ao mesmo tempo que permite aferir de forma mais clara o impacto da evolução de cada componente na evolução de outros agregados macroeconómicos, tais como a balança comercial.
Para este exercício é essencial ter informação relativa ao conteúdo importado de cada uma das componentes que constituem a procura global. Esta informação está disponível nas matrizes simétricas de input-output publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e permitem aferir, entre outros, qual a percentagem de cada componente da procura global que foi satisfeita através de importações. Estas importações podem ser de dois tipos: diretas (por exemplo, a importação de um bem para a satisfação direta de uma necessidade de consumo, investimento ou exportação), ou indiretas (através da importação de um bem ou serviço que é utilizado como consumo intermédio no processo produtivo de um bem que é posteriormente utilizado na satisfação de uma necessidade de consumo, investimento ou exportação). A publicação destas matrizes é feita com uma periodicidade irregular (mais recentemente têm sido publicadas a cada 2 a 5 anos), com um desfasamento temporal alargado (a última versão foi lançada cerca de 3 anos após o período de referência). Além disso, não estão disponíveis para a totalidade dos anos cobertos pelas Contas Nacionais e não são revistas aquando de retropolações das séries de Contas Nacionais face a alterações metodológicas ou alterações de ano base. A última versão disponível destas matrizes referem-se a 2017 e foram publicadas pelo INE em abril de 2020. Anteriores a esta versão, existem matrizes input-ouput para os anos de 1999, 2005, 2008, 2013 e 2015.
Dadas estas limitações, em especial a irregularidade com que estas matrizes estão disponíveis, é necessária uma metodologia de cálculo para os valores dos conteúdos importados das diversas componentes da procura global para os anos intercalares, para os quais não existe informação disponível. Ao longo dos anos é expectável a existência de oscilações nos conteúdos importados de cada componente da procura global, apesar de no curto prazo ser esperado que estas sejam de menor dimensão, na medida em que apenas deverão refletir eventuais alterações na estrutura das componentes (por exemplo, maior crescimento do consumo de bens duradouros, que habitualmente apresentam maior conteúdo importado) e não alterações dos conteúdos importados ao nível do produto, alterações que apenas deverão ocorrer no médio-longo prazo. Assim, considerar-se-á que eventuais discrepâncias que possam ocorrer entre o total das importações e o resultado das importações teóricas deverão ser fruto destas alterações ao nível da estrutura das componentes da procura global e deverão ser por estas distribuídas, assegurando, desta forma, a identidade do PIB em Contas Nacionais. Esta metodologia segue de perto a utilizada pelo Banco de Portugal (2017), segundo a qual se considera “que as variações percentuais do grau de penetração das importações são iguais para todas as componentes da procura global”.
* Este explicador tem por base a informação publicada no Relatório 10-2019 “Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2019-2023 (Atualização)”, elaborado e publicado pelo CFP em outubro de 2019.
Data da última atualização: 27/11/2023