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Nazaré da Costa Cabral destaca bom momento da economia, mas alerta para subida da despesa e para o impacto da escalada protecionista.

 

A presidente do Conselho das Finanças Públicas assinala a resiliência da economia portuguesa face aos desafios externos, mas alerta para riscos significativos, nomeadamente perante a escalada protecionista. Em entrevista ao ECO, Nazaré da Costa Cabral acredita que as tensões comerciais podem levar ao recrudescimento da tensão inflacionista e que Portugal pode sofrer efeitos por via indireta, sobretudo devido à exposição à Alemanha.

 

“Um dos receios que tenho é que podemos vir a assistir a um aumento da taxa de desemprego. Se porventura a produção alemã for afetada, se houver algumas disrupções ao nível dessa produção industrial, não descarto que isso não possa afetar também as indústrias aqui em Portugal”, afirma.

 

A responsável do CFP revela apreensão face à trajetória de certa despesa pública, apela a um exercício urgente de revisão da despesa no Serviço Nacional de Saúde (SNS) perante uma situação que considera ser “insustentável”, e admite que ficará satisfeita se execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) rondar os 90%.

 

Mostra-se a favor de um aumento do investimento em defesa, se contribuir para desenvolvimento da indústria em Portugal, mas revela alguma perplexidade perante a sugestão de Bruxelas de flexibilização das regras orçamentais.

 

A economia cresceu 1,9% no ano passado, com o desempenho do último trimestre a ser melhor do que o esperado. O efeito de arrastamento permite um melhor ponto de partida para este ano. Podemos estar confiantes na estimativa de 2,1% do Governo?

Tivemos um comportamento da economia melhor do que o esperado no final do ano. A economia em cadeia cresceu 1,5% e isso criou de facto tal efeito de arrastamento para o ano 2025, de 1,3%. Se o crescimento fosse nulo nos demais trimestres do ano, esse crescimento já estaria como garantido.

 

O CFP já havia projetado em setembro uma taxa de crescimento para este ano de 2,4%. Neste momento estamos a trabalhar no novo cenário, que vamos publicar em abril. Há dois aspetos a salientar, que de alguma maneira explicam este bom desempenho da economia no final de 2024, princípio de 2025.

 

Por um lado, o comportamento da procura interna, particularmente do consumo privado, que foi muito impulsionado pelas medidas de política económica que foram adotadas, nomeadamente ao nível das pensões e do IRS. Isso libertou rendimento para as famílias, o que potenciou consumo também nessa fase do ano. Ainda do lado da procura interna houve uma certa aceleração do próprio Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do investimento associado.

 

E na componente externa?

Não obstante estarmos num período bastante crítico e que nos suscita uma série de riscos para o futuro, a dimensão externa também foi favorável. A economia portuguesa apresentou um excedente externo em 2024 de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Estamos a revelar alguma resiliência, por exemplo, no sentido de obtenção de alguns ganhos de quota de mercado.

 

O que é importante na medida em que nos torna, de alguma maneira, menos dependentes das dinâmicas da procura externa e está de certa forma a acontecer tanto ao nível dos serviços como da exportação de bens. A própria diversificação da economia parece-me um aspeto crucial.

 

Ou seja, sabemos que ainda estamos muito concentrados na exportação de serviços de turismo, mas ao nível dos bens temos um panorama de diversificação maior. É importante, porque estamos menos expostos a choques económicos negativos. Sabemos lidar melhor com eles quando a economia é mais diversificada, assenta em vários setores e não está tão concentrada na produção num só.

 

Dito isto, existem riscos sérios para a economia portuguesa e advêm sobretudo de duas dimensões. Uma é a dimensão internacional. O facto de estarmos num contexto internacional de grande mudança.

 

As tarifas e a política comercial dos Estados Unidos são um risco acrescido para a economia?

Creio que sim. Esse é um aspeto importante. Quando pensamos na escalada protecionista que está em curso por força das medidas que já foram anunciadas pela Administração Trump, no sentido, por exemplo, de tributar 10% as exportações europeias para os Estados Unidos, é evidente que isso tem canais de transmissão. Podem afetar claramente a economia europeia no seu todo e portuguesa em particular.

 

Desde logo ao nível do volume das trocas comerciais. Sabemos que isso pode determinar de imediato uma quebra importante das exportações da Europa para os Estados Unidos. Por outro lado, o agravamento de todas estas tarifas pode determinar um aumento dos preços dos produtos.

 

Podemos estar aqui perante um novo foco? Podem reacender a inflação?

Podemos. Creio que sim e que esse é um risco, aliás, significativo. Até porque o choque inflacionário que sofremos por força da crise energética que tivemos em 2022 não está ainda completamente debelado. Esta escalada protecionista, que depois pode envolver medidas de retaliação, pode contribuir para o recrudescimento dessa tensão inflacionista.

 

E pode determinar uma alteração da própria política monetária com custos para a Europa. O Banco Central Europeu, que neste momento iniciou uma trajetória de alívio nas taxas de juro, pode suster essa redução e até pode revertê-la.

 

Voltar a subir as taxas de juro?

Isso é uma hipótese. Penso que não está neste momento em cima da mesa, mas nunca poderemos afastá-la. Ou seja, esta ideia de que o Banco Central se veja obrigado a reagir novamente, quer através das taxas de juro e depois também da própria taxa de câmbio do euro com tudo o que isso implicaria em termos de perda de competitividade para a economia europeia.

 

Por outro lado, Portugal em si não é das economias mais expostas à procura final dos Estados.

 

Mas poderá ter consequências por via indireta.

Indiretamente, exatamente. Produzimos no contexto das cadeias de produção onde estamos inseridos, sobretudo de componentes de bens em áreas como um setor automóvel, maquinarias. Ou seja, fornecemos bens intermédios por exemplo para a Alemanha que, por sua vez, exporta os bens finais para os Estados Unidos.

 

Se houver aqui obstáculos acrescidos às trocas comerciais entre estas duas economias, indiretamente poderemos vir a ser também prejudicados. Por outro lado, há uma segunda dimensão que queria destacar, é a própria debilidade neste momento da economia alemã.

 

Que continuou em recessão em 2024.

Tem vindo a sofrer taxas de crescimento negativo nos últimos dois anos e não sabemos como é que as coisas agora ficaram com a alteração do Governo, mas seja como for as perspetivas não são completamente favoráveis, não são fantásticas. O que significa que a Alemanha está numa situação difícil do ponto de vista da resposta a este choque.

 

Na verdade, é um choque económico que a Alemanha está a sofrer, o de ser capaz de enfrentar a transição digital e a transição ambiental ombreando com os seus concorrentes mais diretos – a China e os próprios Estados Unidos. O que significa que nós como economia aberta, muito dependente da Alemanha, estamos naturalmente muito expostos e isso pode, evidentemente, ter um efeito.

 

Aliás, um dos receios que tenho é que podemos vir a assistir a um aumento da taxa de desemprego. Se, porventura, a produção alemã for afetada, se houver aqui algumas disrupções ao nível dessa produção industrial, não descarto que isso não possa afetar também as indústrias aqui em Portugal.

 

Enquanto a economia europeia abranda e as principais economias têm taxas de crescimento reduzidas, Portugal e Espanha têm brilhado. Como é que olha para esta fotografia?

Neste momento, a Península Ibérica apresenta um elemento de resistência e de resiliência acrescido. É evidente que é favorável e é positivo, traduzido desde logo na melhoria daqueles indicadores que mencionava na componente externa, por exemplo, também ao nível da redução da dívida externa, da redução da posição de investimento internacional, que apesar de ser -58,3% do PIB, é de certa forma notável face aquilo que é o histórico das últimas décadas.

 

É um dado salutar, mas acho que é evidente que estamos sempre muito dependentes do contexto externo.

 

Recordemos que a Europa tem, por exemplo, uma guerra às suas portas…

A Europa vive um problema difícil de afirmação e não apenas no plano económico. Um problema que pode ser sério enquanto modelo de integração política. Por um lado, neste contexto de guerra e de uma nova atitude norte-americana perante a Ucrânia. Por outro lado, a forma como a Europa se posiciona nesta luta de titãs em termos globais, que é a luta que envolve os Estados Unidos e a China pelo acesso a matérias-primas, a rotas comerciais, a novas terras, terras raras, pelo acesso a dados, à informação.

 

Há uma dificuldade da Europa neste momento em posicionar-se perante essa luta. Por um lado, tem a sua ligação histórica transatlântica, mas por outro há a necessidade de aproveitar as oportunidades que a China, enquanto novo bloco comercial, oferece.

 

Depois, outro problema e perante a nova postura norte-americana é o posicionamento da Europa perante o conflito na Ucrânia. Nesta matéria, temos vindo a assistir a um certo voluntarismo da Europa.

 

Vamos agora defender-nos porque existe essa urgência do reforço da defesa da segurança, mas ao mesmo tempo existe todo um conjunto de fraquezas e de dissonâncias na própria Europa. A Europa não é uma voz.

 

E não fala a uma só voz.

Existe uma dissonância de vozes. Esta ideia de federalizar a defesa parece uma ideia muito utópica. Quando temos uma Hungria com posicionamento diferente em relação à Rússia, quando temos diferentes posições em relação à entrada da Ucrânia quer na NATO, quer na própria União Europeia… temos uma Europa que parece bastante fragmentada.

 

Isso é percebido pelos outros interlocutores e fragiliza a Europa enquanto interlocutor internacional. Veja-se o que está a acontecer às instituições europeias de ficarem de fora do processo de negociação de paz que alegadamente estará para breve na Ucrânia. Isto é um aspeto grave, sério que que afeta a própria identidade e a própria.

 

Em relação às finanças públicas. O Governo tem optado por uma estratégia de deixar excedente orçamental para “não pôr em causa o investimento” nos serviços públicos. Considera que esta é uma estratégia adequada?

Temos a perspetiva de estimativa de excedente para o ano 2024. Ainda não está fechada – nós próprios estamos a trabalhar no fecho dessa estimativa –, mas em setembro projetámos um excedente de 0,6%/0,7% do PIB e não cremos que deva afastar-se muito destes valores. Para 2025, a perspetiva é de manutenção desse excedente e, nas nossas projeções, na ordem dos 0,4% do PIB.

 

Não são fenomenais, mas são excedentes e isso é um aspeto que deve ser realçado. Não devemos ter medo de dizer que o equilíbrio orçamental é um objetivo salutar de finanças públicas e que deve ser sempre preservado. Evidentemente que há contextos de recessão e é por isso que é importante que nos anos bons da economia, como é o que estamos agora a atravessar, existam excedentes que depois devem ser usados e aproveitados, por exemplo, para diminuir o rácio da dívida no produto.

 

Esse é um rácio ainda muito elevado. Não obstante os progressos que têm sido feitos, ainda se fixa acima dos 90% do PIB e está ainda muito longe das metas do Tratado da União Europeia. Para todos os efeitos, continuamos a ser um país altamente endividado e que tem todo o interesse em aproveitar os excedentes orçamentais numa estratégia de continuidade, de redução da nossa dívida pública no produto.

 

É nesse quadro que se deve fazer a gestão da política orçamental e da orientação dessa política orçamental. Não vejo neste momento razões para que ela seja uma política excessivamente expansionista. Portugal está neste momento a beneficiar do PRR e, portanto, o Estado deve aproveitar esse estímulo orçamental para incrementar o potencial de crescimento da economia portuguesa, porque é disso que virá a capacidade de gerar futuros equilíbrios orçamentais.

 

Falando do PRR e da sua reprogramação, podemos vir a assistir ao que acontece muitas vezes com outros fundos comunitários em que, no final do prazo, começamos a aplicar o dinheiro em ‘tudo e mais alguma coisa’ só para o gastar?

Essa é uma chamada de atenção que tenho feito em alguns momentos. Gostaria muito que o PRR fosse um instrumento motor e de reconversão tecnológica e estrutural da economia portuguesa. Creio que neste momento esta reprogramação, que está em curso, resulta de uma necessidade pragmática.

 

Perante a verificação de que não era possível usar atempadamente esses fundos num determinado tipo de despesa que levaria mais tempo a realizar-se, o Governo optou por alocar a outras áreas de despesa onde está convencido que terá condições para executar.

 

Resta saber, evidentemente, se servirá para aqueles que são os objetivos. Essa será outra discussão que no final ter-se-á de fazer, que é de avaliar até que ponto o PRR foi de facto um instrumento efetivo de transformação estrutural da economia portuguesa.

 

Dada a reprogramação, acredita que a execução do PRR chegará a bom porto?

Não tenho indicadores em sentido contrário. Aquilo que nos é dito é que feito desta forma a despesa realizar-se-á. Uma parte dela em 2026 até com recurso a empréstimos. Isso também terá naturalmente algum impacto a nível do saldo. Mas quero crer que sim, quero crer que será possível de executar.

 

Agora, é evidente, nós próprios, nas projeções que fazemos, tendo em conta aquilo que é o histórico de execução tradicional dos fundos europeus, não chegamos a admitir uma execução a 100%. Mas se puder estar em torno dos 90% já será um bom registo.

 

Considera que é uma estratégia adequada para as finanças públicas se o Governo aumentar a utilização dos empréstimos ou utilizar até a sua totalidade?

Tenho pena que a Comissão Europeia quando fez o financiamento através da emissão de obrigações sociais, para financiar justamente os custos do Next Generation, não tenha ido mais além para permitir, justamente, que as subvenções aos Estados pudessem até ser maiores do que aquelas que acabaram por ser.

 

Mas isso foi um momento que se perdeu naturalmente. Também ninguém, nessa altura, estaria porventura à espera que sofreríamos um choque inflacionário e que, portanto, as políticas monetárias em termos globais se alterassem. É evidente que esta é uma estratégia de financiamento que aproveita, apesar de tudo, o facto de, não obstante a subida das taxas de juro, a vantagem de termos custos de financiamento moderados.

 

Mas a partir de 2026 começa a pesar.

É evidente. Isso terá um impacto sobre o saldo para o Estado, sobre os encargos correntes da dívida e terá um impacto também ao nível da dívida pública.

 

Na avaliação que o CFP faz do plano orçamental de médio prazo estima que a despesa líquida entre 2025 e 2028 seja superior à prevista pelo Governo. Em que medida é uma preocupação?

É uma preocupação, até porque temos neste momento um conjunto de novas pressões sobre a despesa e que são muito fortes. Não obstante o desempenho favorável do ponto de vista orçamental que se perspetiva mesmo para este ano, tenho algumas preocupações em relação à trajetória de certa despesa pública, nomeadamente alguma despesa corrente que sofreu um aumento muito significativo, sobretudo em áreas particulares.

 

Não posso deixar de referir a área da saúde, no Serviço Nacional de Saúde (SNS). É uma área que para mim é sempre muito problemática, porque tem havido sempre uma aceleração no crescimento da despesa. Por outro lado, o ano passado tivemos um aumento da despesa no SNS na ordem dos 9% e ainda nem estamos a considerar as valorizações ao nível da carreira médica e da carreira dos enfermeiros.

 

Contando com todas as medidas que foram adotadas – a dedicação plena dos profissionais de saúde, os novos centros de responsabilidade integrada, a criação de uma nova carreira de técnico auxiliar, as medidas de compensação, por exemplo, pelas urgências que os médicos realizam – determinou só em despesa com pessoal um aumento de 12%.

 

É incomportável, é insustentável manter uma situação destas para futuro. A perspetiva de admitir que possa continuar deve merecer toda a atenção.

 

É má gestão?

Há um aspeto que tem de ser observado que é como é que está organizado o sistema. Evidentemente têm de ser adotadas medidas urgentes no sentido de melhorar e de identificar formas de obtenção de poupança de despesa. Sabemos que o Governo está a trabalhar no desenvolvimento de instrumentos ao nível de revisão da despesa.

 

É aqui que um exercício de revisão é fundamental?

Um exercício sério e urgente de revisão da despesa ao nível do SNS parece-me fulcral. Com uma população cada vez mais envelhecida – a força da demografia aqui é imparável – não podemos contornar isto se não houver medidas que olhem para o sistema, identificar desperdícios, que eles existem, e ter também alguma coragem política de adotar medidas que são necessárias em determinados segmentos da gestão do sistema.

 

A juntar a isto temos uma nova pressão, que é pressão que vem do lado da defesa.

 

De que forma é que Portugal conseguirá responder a esse desafio de aumentar o investimento na defesa?

Aquilo que está neste momento em cima da mesa também devo dizer que me deixa algumas preocupações. Tínhamos um compromisso perante a NATO de atingir os 2% do PIB em despesa com defesa. Neste momento, a nossa despesa ronda os 1,5% do PIB. Nos últimos tempos já se vem falando na perspetiva de atingirmos 3,5% do PIB e esta seria, de facto, uma alteração extraordinária, absolutamente colossal.

 

Basta pensar que os Estados Unidos, em termos médios, gastam em despesa com defesa 3,3% do seu PIB. Teríamos ainda que ir além deste valor. É evidente que isto cria aqui algumas interrogações sobre qual possa vir a ser o impacto de um crescimento nesta ordem de grandeza, quer para o crescimento da despesa pública, para a deterioração do saldo e depois ao nível do impacto da dívida, porque isto teria de ser financiado.

 

Mas temos de olhar para as coisas numa dupla perspetiva. Pessoalmente, vejo com bons olhos que se possa investir na indústria da defesa. Não apenas pela importância que isso possa ter em termos de reforço da nossa capacidade de defesa e promoção da nossa segurança, mas também porque a indústria da defesa tende a ser um bom motor de crescimento económico se houver efeitos de contágio para outras áreas que são críticas.

 

Por exemplo, a das telecomunicações, da aeronáutica. Se for bem orientada isto pode ser positivo para o aumento do potencial de crescimento da economia portuguesa. Agora, se o que está aqui em causa é aumentarmos a nossa despesa, para adquirir ao exterior, para importar material bélico, munições, mísseis, artilharia, e desde logo em relação aos Estados Unidos que é o grande fornecedor deste material, aí teremos de olhar não apenas para o impacto que pode ter para as contas públicas, mas para as contas externas.

 

O financiamento da defesa é um tema que tem estado em cima da mesa na União Europeia. Têm sido apresentadas algumas ideias, como a flexibilização das regras orçamentais ou a emissão de dívida comum, à semelhança do que foi feito para o PRR. Como é que avalia estas opções?

Em relação à flexibilização das regras orçamentais, devo dizer que fico um pouco perplexa. Estas regras acabaram de entrar em vigor e já estamos a abrir aqui um flanco de exceção, que me parece que me parece preocupante no sentido da estabilização do novo modelo que foi criado. Por outro lado, mesmo que haja uma exceção ao nível dos tais limites da despesa líquida, não nos podemos esquecer que há a dívida.

 

Que tem de ser paga.

Que tem de ser paga. É um passivo que fica ali sobre o Estado, que vai ter de honrar mais cedo ou mais tarde e com custos futuros para os contribuintes. Esse ponto não deixa de estar em cima da mesa.

 

Relativamente à perspetiva da federalização da defesa, não apenas com a criação de competências novas a este nível, mas depois ao nível também de termos um fundo comum para financiar o esforço de defesa que cada Estado-membro vai fazer, isso pode ser uma via para no imediato, pelo menos, aliviar um pouco o pouco esforço orçamental por parte de cada Estado individualmente considerado. Mas não é líquido que esse esforço no futuro seja aliviado.

 

Porque os Estados depois podem ter de aumentar as contribuições nacionais para o orçamento comunitário?

Ora bem. No âmbito do sistema de recursos próprios, a Comissão Europeia pode ter de determinar o aumento das transferências que os Estados fazem para o orçamento europeu, justamente para fazer face aos custos e aos encargos decorrentes do pagamento de todas as despesas. Porque a própria Comissão Europeia ter-se-ia que financiar para suportar estes custos.

 

Tal como se financiou para o PRR e agora se começa a discutir como é que vai ter capacidade para pagar essa dívida.

Exatamente. Essa é uma discussão que me parece que está, aliás, bastante atrasada. A partir de 2028, a Europa vai ter de começar, no fundo, a desembolsar para pagar a dívida que assumiu para pagar as obrigações que emitiu. Como é que isto vai ser pago?

 

Quais vão ser os recursos, os impostos? Como é que vai ser distribuído o esforço financeiro pelos países da União Europeia para justamente fazer face a esta exigência de pagamento que se vai colocar?


“Falta em Portugal a apropriação nacional de uma regra orçamental que sirva o país”, defende Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas recomenda que atores políticos consensualizem uma regra, na qual se revejam e digam há "este limite, isto é para cumprir, que não seja só uma letra morta".

 

A presidente do Conselho das Finanças Públicas defende, em entrevista ao ECO, que o país precisa da apropriação de uma regra orçamental adaptada às suas necessidades, “exigente”, mas cumprível, na qual todos os actores políticos se revejam, ao invés de replicar simplesmente as recomendações de Bruxelas. O objetivo é criar um sentimento de pertença a esta ‘linha mestre’, de forma a aumentar o grau de responsabilização. Nazaré da Costa Cabral aponta ainda o dedo à “falta de vontade política” para a institucionalização de uma revisão da despesa do Estado.

 

“O que falta em Portugal é a apropriação nacional de uma regra orçamental que sirva o país, que seja uma regra que nos crie alguma exigência, alguma disciplina em termos financeiros, em termos de condução das nossas finanças públicas, mas que seja uma regra em que todos se revejam“, afirma a presidente do CFP.

 

As declarações de Nazaré da Costa Cabral ocorrem numa altura em que o Governo prepara uma revisão da Lei de Enquadramento Orçamental (LEO), que deverá ser apresentada ainda no primeiro trimestre, segundo o timing sinalizado em dezembro pelo ministro das Finanças.

 

A responsável do CFP realça que o novo sistema orçamental europeu tem como âncora a trajetória de redução da dívida pública, utilizando como indicador operacional a da despesa líquida, mas considera que há um debate que é preciso fazer em Portugal sobre o tema.

 

“Temos o hábito de pegar na Lei de Enquadramento Orçamental e transpormos as regras europeias. É como se tivéssemos que estar sempre dependentes daquilo que Bruxelas diz e, portanto, só fazemos aquilo que diz nos exatos termos em que diz e para os efeitos em que diz. Portugal, como país soberano que quer ser, independente até do ponto de vista financeiro, deve assumir uma atitude de adotar a sua própria regra orçamental“, argumenta.

 

Nazaré da Costa Cabral sustenta que uma vez que a LEO é uma proposta do Governo, mas vai ser discutida no Parlamento, “os atores políticos deveriam acordar uma verdadeira regra orçamental para o conjunto das instituições públicas, que depois naturalmente também alimentasse regras específicas para os subsectores do Estado, nomeadamente para o setor regional ou para o setor das administrações locais“.

 

“Uma regra orçamental adaptada àquilo que são os interesses orçamentais e financeiros do país, que seja exigente, cumprível, mas que seja, acima de tudo, uma regra na qual todos os atores se revejam e digam: nós temos este limite, isto é para cumprir. Que não seja só uma letra morta que está ali para cumprir um formalismo qualquer, uma exigência legal. Não, é uma lei para ser cumprida. Muitas vezes o que vemos é: ‘bom é uma regra europeia, não é uma regra nacional, vem de Bruxelas’”, aponta.

 

Ou seja, que a reforma das finanças públicas conduzisse a um regime “coerente” de regras orçamentais. “Esse é que é o grande desafio agora das nossas finanças“, adverte.

 

Novas autoridades? “Se permitir melhorias de gestão é um modelo bem-vindo”

O CFP teve “algumas interações” com o grupo de trabalho do Governo que está a trabalhar na revisão da LEO, até porque há um conjunto de matérias relacionadas com a transposição de uma diretiva europeia, que dizem respeito às competências das instituições orçamentais independentes, como é o caso da liderada por Nazaré da Costa Cabral.

 

“O que importa ficar clarificado é qual é que vai ser a intervenção do CFP, nomeadamente ao nível da execução do próprio plano de médio prazo e no âmbito do relatório de progresso que o Governo vai ter que fazer todos os anos para dar nota dos termos dessa execução“, explica. Entre os pontos estão compreender se a instituição terá de endossar as previsões do Governo, se é que vão existir, subjacentes, mas também se irá, por exemplo, avaliar a execução do plano e o comportamento da despesa líquida do Estado, sinalizando, nomeadamente, a existência de desvios.

 

Tal como o ECO noticiou, o ministro das Finanças está a desenhar uma reforma do Ministério das Finanças e vai criar três novas autoridades que operam do lado da despesa: a autoridade orçamental, a autoridade financeira e a autoridade da Administração Pública. Questionada sobre se vê vantagens na alteração nas entidades do Terreiro do Paço, Nazaré da Costa Cabral salienta não ter informação detalhada sobre quais são os objetivos, mas supõe que na LEO exista referência às novas entidades.

 

“É um bocadinho feito à semelhança do que aconteceu quando a Autoridade Tributária substituiu a anterior Direção-Geral dos Impostos e a Direção-Geral dos Direitos Aduaneiros. Suponho que o modelo será um bocadinho inspirado nesse figurino. Se permitir melhorias de gestão, de eficiência ao nível da gestão da administração pública é um modelo bem-vindo. Mas é preciso esperar para ver exatamente o que é que vai sair desta reforma“, disse.

 

“Falta de vontade política” na revisão de despesa

A presidente do CFP critica a “falta de vontade política” para levar a cabo “um verdadeiro sistema de revisão de despesa” do Estado, isto é, um exercício orçamental que analisa de forma detalhada e sistemática a despesa base do Estado, com o objetivo de gerir o nível agregado de despesas, identificar medidas de poupança ou de reafetação de verbas, criando margem orçamental e melhorando a sua eficácia.

 

“Temos tido exercícios de revisão da despesa que são muito segmentados. Pega-se em pequenas coisinhas e faz-se um exercício de revisão na despesa específica para uma determinada área da despesa. Não é isso que se pretende quando se fala de revisão da despesa, é sim institucionalizá-la no conjunto dos serviços e departamentos da Administração Pública e ao nível de todos os programas orçamentais“, explica.

 

A revisão da despesa pública tem ficado aquém dos objetivos, segundo os alertas também de instituições como o Tribunal de Contas. Recentemente, a instituição concluiu que, após mais de dez anos após a primeira experiência, “este tipo de exercício não registou um nível de desenvolvimento que permita utilizá-lo como um instrumento significativo de apoio à gestão financeira pública”. No parecer à Conta Geral do Estado de 2023, contudo, assinala que se começaram “a criar relações efetivas, enquadradas em referenciais técnicos sólidos, com as entidades que se pretende que venham a desempenhar papéis relevantes nos processos de revisão da despesa”.

 

O Ministério das Finanças está a trabalhar num novo exercício de revisão da despesa e, no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), prevê poupar 336,9 milhões de euros até 2027 com a identificação de despesa ineficiente e ineficaz e a ponderação de opções de poupança na saúde, no funcionamento das Administrações Públicas e de subvenções públicas.

 

Nazaré da Costa Cabral, que tem alertado para a necessidade destes exercícios serem consequentes nas suas conclusões, assinala que uma condição prévia para um exercício eficaz é programas de despesa com mecanismos de custeio de atividades associados. “Só quando tivemos esta identificação é que é possível identificar gastos desnecessários, gastos que não são prioritários e determinar a eliminação daquilo que efetivamente não é tão necessário ou daquilo que é mesmo supérfluo. Aí é que está o cerne de uma verdadeira revisão de despesa“, realça.

 

Para a responsável do CFP, existem agora “condições únicas” para avançar com este processo. “O Governo tem estado a trabalhar com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), esta tem prestado apoio técnico nesta matéria, e há condições financeiras, porque há uma linha do Plano de Recuperação e Resiliência (PRRR) dedicada justamente a esta questão”, indica.



Compra de dívida pública por serviços do Estado no final do ano é “uma não questão”, diz presidente do CFP

A Presidente do Conselho de Finanças Públicas defende que operações não têm impacto sobre a dívida pública na ótica de Maastricht. Ministro foi chamado ao Parlamento para explicar o tema.

 

A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) considera que o aumento das aplicações em Certificados Especiais de Dívida de Curto Prazo (CEDIC) por entidades do Estado na reta final do ano é “uma não questão”. O tema irá levar o ministro das Finanças ao Parlamento, mas Nazaré da Costa Cabral desvaloriza o tema por considerar que não impacta a trajetória da dívida pública portuguesa na ótica de Maastricht, a que conta para Bruxelas, uma vez que instrumentos são pagos rapidamente.

 

“Vejo isto como uma não questão, porque acho que estas operações não têm impacto nenhum sobre a dívida pública na ótica de Maastricht, que é aquela que interessa para efeitos de avaliação da trajetória”, afirmou Nazaré da Costa Cabral, em entrevista ao ECO.

 

Questionada sobre como é que avalia a utilização destes instrumentos, a presidente do CFP realça que se trata “de uma operação de emissão de dívida de curto prazo, para alocação de saldos de tesouraria, que estão disseminados por várias entidades públicas”.
“São títulos que rapidamente são pagos, têm de facto uma maturidade muito, muito curta e, portanto, para a evolução da nossa dívida pública do ponto de vista de Maastricht não tem qualquer tipo de impacto”, vincou.

 

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, foi chamado à Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP), devido à aprovação de um requerimento do PS, para explicar a trajetória da dívida pública portuguesa e o aumento das aplicações em CEDIC, instrumentos de subscrição exclusiva por investidores do setor público. Em causa está o facto de as entidades do setor público administrativo e as empresas públicas terem voltado a aplicar os seus excedentes de tesouraria na subscrição destes instrumentos, com maturidade máxima de um ano, no valor de 15.819 milhões de euros.

 

O tema voltou ao debate político após a notícia do Público (acesso pago), que deu conta que a prática que ocorre desde 2021 e foi criticada pelo atual ministro das Finanças no passado repetiu-se entre o final de setembro e o final de dezembro. O aumento de 184% fez disparar o volume total de subscrições para 24.059 milhões de euros no final de 2024.

 

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) classificou a redução da dívida ocorrida entre 2023 e 2024, durante o Governo de António Costa, de “artificial”, nomeadamente devido aos CEDIC, que reduzem o valor consolidado da dívida pública reportado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

 

No requerimento, o grupo parlamentar socialista indica que quer conhecer a identidade dos investidores públicos que fizeram aplicações em CEDIC, e se “existiu algum tipo de ingerência política na distribuição de dividendos e resultados transitados das entidades em questão“.

 

O rácio da dívida pública caiu para 95,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, abaixo dos 97,9% do ano anterior e o valor mais baixo desde junho de 2010, e ligeiramente menos do que os 95,9% previstos pelo Governo.



CFP quer ter voz nas projeções de pensões: “Segurança Social está sempre a ser condicionada por interpretações”

Nazaré da Costa Cabral alerta para falta de confiança nas projeções do sistema de pensões, defende papel do CFP no tema e considera que regra sobre portefólio do FEFFS deve ser avaliada.

 

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) considera que não existe confiança nas projeções do sistema de pensões, pelo que quer capitalizar a sua independência para ser parte ativa das mesmas e desfazer a ideia de “podem ser instrumentalizadas” e “estão a servir um determinado interesse”.

 

Em entrevista ao ECO, a presidente da instituição defende que não pode existir discricionariedade na utilização dos excedentes previdenciais e que a regra que determina a alocação de 50% do portefólio do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) em dívida portuguesa deve ser avaliada.

 

A presidente do CFP, Nazaré da Costa Cabral, considera que para “um conhecimento bastante isento e rigoroso do sistema previdencial da Segurança Social” é essencial ter “projeções rigorosas e certeiras da situação” do sistema de pensões, recordando que o último relatório do Tribunal de Contas sobre a sustentabilidade do sistema é crítico das projeções oficiais feitas pelo Ministério do Trabalho.

 

“O que verificamos é que a Segurança Social está sempre a ser, digamos, condicionada por interpretações. As projeções não geram total confiança, sejam elas ou de grupos de trabalho ou as próprias oficiais. Não geram suficiente confiança nem na opinião pública em geral, na imprensa, por exemplo, e não geram nos atores políticos. Há sempre a ideia de que podem ser instrumentalizadas e estão a servir um determinado interesse“, argumenta.

 

Neste sentido, recorda a recomendação do Livro Verde sobre o reforço da sustentabilidade do sistema previdencial de trazer o Conselho das Finanças Públicas para o centro deste sistema de projeções. “Isto é, enquanto entidade independente, reconhecida pela capacidade técnica que tem poderia passar a ter responsabilidades e competências ao nível das projeções no sistema de pensões“, aponta.

 

Nazaré da Costa Cabral adianta que a instituição que lidera tem desenvolvido trabalho “nos últimos tempos” para “quer ao nível dos seus recursos humanos, quer da aposta na dimensão tecnológica apetrechar-se para poder desenvolver projeções de pensões no futuro”, e defende que os estatutos dão mandato ao CFP para o fazer.

 

“Se uma entidade independente como o CFP pudesse ter condições para fazer projeções nesta área seria uma vantagem, porque fazer projeções de pensões é um exercício técnico. Não tem de ser sistematicamente objeto de instrumentalização política e muito menos de natureza ideológica“, afirma.

 

Vincando a “vontade de o fazer”, contudo, adverte que há fatores externos que ultrapassam a instituição como o “acesso à informação, nomeadamente a dados, incluindo microdados”. Para a responsável do CFP, “aquilo que o país neste momento precisa é de ter um modelo de pensões que seja bem adequado àquele que é o sistema da Segurança Social, àquela que é realidade no seu mercado de trabalho, um modelo que em que as especificações do mesmo sejam devidamente conhecidas para que possam ser trabalhadas”.

 

Nazaré da Costa Cabral aponta o conhecimento das eventualidades como determinante para responder aos desafios da sustentabilidade. “O cerne do problema da sustentabilidade da Segurança Social é o seu sistema de pensões. Defendo há muito que deveria haver uma clara separação na Taxa Social Única (TSU) daquela que é a taxa alocada ao financiamento na eventualidade de pensões de velhice, eventualmente invalidez também”, aponta.

 

Para a responsável do CFP, só assim é possível compreender se essa taxa está adequadamente ajustada àquilo que é o custo técnico e todos os outros custos associados à própria eventualidade de velhice. “Um modelo como temos de taxa única para todas as eventualidades não permite isso. Além de que torna a velhice muito condicionada pelas outras eventualidades, nomeadamente pelo desemprego. O desemprego é uma eventualidade muito volátil, tipicamente cíclica e, portanto, o custo do desemprego está sempre de certa maneira a contaminar a velhice“, adverte.

 

Alerta ainda para a necessidade de identificar “se o valor da taxa alocada à eventualidade de velhice está bem determinado”, de forma a determinar “se existe um equilíbrio atuarial ou não no sistema”.

 

“Aí das duas uma: ou esse equilíbrio atuarial está garantido e podemos estar tranquilos ou então temos de fazer qualquer coisa ou ao nível da taxa ou do ajuste da idade de reforma, que é o que tem vindo a ser feito. A permanente elevação da idade de acesso à pensão de velhice é um sinal de que o sistema não está atuarialmente equilibrado”, refere.

 

Regras de gestão do portefólio do FEFFS têm de ser avaliadas

A presidente do CFP realça a “importância sistémica” do FEFFS, alertando que este “tem de ser preservado e olhado com toda a cautela” quer a montante, quer a jusante. “Muitas vezes olhamos para o FEFFS e pensamos que ele é a almofada financeira do nosso sistema, que está ali para garantir o tal respaldo quando o sistema previdencial entrar em em défice. Só que o FEFFS não é só isso, é uma reserva que permite equalizar os índices de contribuição das várias gerações que nele se cruzam“, recorda.

 

Neste sentido, realça que este é alimentado a partir dos excedentes do sistema previdencial e “deveria mensalmente ser alimentado a partir de uma parte da quota do trabalhador – de dois a quatro pontos percentuais (pp.) da quota do trabalhador, algo que não tem sido cumprido inteiramente nos últimos anos”.

 

Assim, considera que “o excedente do previdencial nunca é demais, nunca pode ser usado para outros fins espúrios ao próprio sistema previdencial“, sendo “dos trabalhadores” e, por isso, “não pode ser desbaratado, porque não está ali na disponibilidade do decisor”.

 

Nazaré da Costa Cabral deixa ainda um alerta sobre a política de investimento do FEFFS: “Deve ser gerido de forma profissional como, aliás, tem sido, a sua política de investimento deve estar muito bem pensada. É importante que o Instituto Gestão de Fundos de Capitalização tenha condições para planear antecipadamente como é que vai investir o bolo financeiro que tem ao seu dispor“, indica.

 

“Claro que tem que ter princípios e aspetos que têm que ser conciliados. Por um lado, a gestão do risco, mas, por outro lado, a tentativa de obtenção do maior retorno possível”, sinaliza.

 

Quando questionada sobre a regra que determina que, pelo menos, 50% do portefólio deve estar alocado à dívida pública portuguesa deve ser alterada, salienta que “é uma decisão política, mas tem de ser avaliada e estudada“.

 

“Foi justificada num determinado contexto muito particular, nos idos anos de 2012 em que Portugal estava só sob a égide de um programa de assistência financeira. Foi usado para dar segurança da dívida pública. Neste momento, temos de pensar se esse modelo se mantém como o mais adequado, na perspetiva também de aquilo que é a rentabilização do fundo e do que pode ser o retorno para os pensionistas do futuro“, considera.


* Entrevista conduzida por Ânia Ataíde, jornalista do Eco, no dia 26 de fevereiro e publicada a 5 de março de 2025.

Data da última atualização: 10/03/2025

Intervenções Públicas . 10 março 2025